“TEMOS DE CONJUGAR A ÁGUA PROVENIENTE DE ORIGENS NATURAIS, COM A ÁGUA PROVENIENTE DE PRODUÇÃO NÃO CONVENCIONAL”
Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro (CMF), marcou presença ontem na Sessão de Abertura da H2O & SUSTAINABILITY SUMMIT 2023 (evento que termina hoje na UALG), e na sua intervenção enfatizou que é cada vez mais necessário “conjugar a água proveniente de origens naturais ou convencionais, com a água proveniente de produção “não convencional”, de modo a melhorar a gestão deste recurso vital à vida.
O autarca farense salientou a situação de seca extrema que se vive no sotavento algarvio e em grande parte do barlavento, cujo restante território está em seca severa. De acordo com dados das Aguas do Algarve se comparamos as reservas de Setembro de 2013 com Setembro de 2023 temos o seguinte cenário: a Barragem de Odelouca tinha um volume útil de 58,86% em 2013, mas em 2023, tem 7,20%; a Barragem de Odeleite tinha 75,72% e agora tem 15,96%; e a Barragem de Beliche tinha 69,12% e atualmente está com 13,72%”. Perante este cenário, Rogério Bacalhau apelou a que se apliquem “medidas estruturais, que envolvam o Estado e a região”, mas sem “morosidade ou dúvidas”. O edil recordou as estratégias que estão em cima da mesa, nomeadamente a barragem da Foupana, a “Tomada do Pomarão” e a central de dessalinização, mas cuja implementação tarda e ainda gera indecisões.
José Pimenta Machado, Vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) referindo-se aos níveis baixos das barragens, que nos colocam “pior do que no ano passado”, mencionou, igualmente, os aumentos dos consumos em 2023 (superiores a 2022 e 2019), potenciados também pelo aumento da temperatura. O Vice-Presidente da APA considera que a resposta a estas situações passa pela eficiência, pela poupança, por medir mais (pois só se consegue gerir o que é medido) e por “trazer mais água para o sistema”, interligando “mais barragens” e olhando “para as ETAR’s como uma oportunidade”. Neste sentido, apontou o Algarve como a região que “vai à frente no país”, já que é a que mais reutiliza estas águas, nomeadamente nos campos de golfe. A aposta na tecnologia é outra das soluções, tendo José Pimenta Machado dito que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prevê uma verba de “240 milhões de euros para investir na água, no Algarve”.
“O pais reagiu tarde”, disse António Pina, Presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), considerando, todavia, que “reagimos bem, mas o que temos não é suficiente” e que os “240 milhões de euros são pouco”. Abordando a questão da dessalinização, voltou a considerar que se começou tarde o processo (pela mão dos autarcas algarvios, em 2019) e que é preciso “antecipar os próximos 20 anos”, reafirmando que “a água que cai no Norte tem de chegar ao Sul”. “O Algarve”, argumentou o Presidente da AMAL, “vai passar muito mal; vamos ter de tomar medidas e não sabemos até que ponto o turismo não será penalizado. Imaginem se faltar água em agosto? Ou se só houver numa parte do dia?” E, continuou: “não podemos esquecer a agricultura”.
O Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Alg), José Apolinário, enquanto entidade responsável pelo “planeamento e coordenação de fundos europeus” na região, informou que “até 2029 temos de executar 340 milhões de euros no tema de políticas públicas da água (verbas provenientes do PRR e do PT2030)”. Nesse sentido, o trabalho a desenvolver junto das empresas, para “introduzir mais economia circular aplicada à água, seja na agricultura, na indústria, no turismo”, também tem que fazer parte da estratégia havendo, já, “bons exemplos no Algarve”. A aposta em reforçar e ampliar o espaço de inovação do Tech Hub, com foco neste tema da água, foi apontado, também, como uma mais-valia por José Apolinário, que apelou, ainda, à “criação de consensos sobre uma segunda dessalinizadora de média capacidade na região”.
“As câmaras, como a de Faro, apostam em muitas soluções”, realçou Rogério Bacalhau, citando algumas das medidas já em aplicação, como o Sistema de Telegestão, o Plano de Setorização da Rede de Abastecimento, os contadores com sistema de telemetria, o Plano de Intervenção e Reabilitação de Condutas e as inúmeras ações de sensibilização e educação ambiental. “Temos tudo isto! Mas necessitamos de 10 milhões de euros para mudar a rede que temos no núcleo mais antigo de Faro e, nos últimos anos, consegui 4 milhões de euros e não temos condições para isso. Não estou a pedir dinheiro; só estou a pedir que me permitam aumentar a capacidade de endividamento”, enfatizou. “Isoladamente, nenhuma câmara ou entidade conseguirão resolver tudo”, reforçou e prosseguiu: “Costumo dizer que o país se rege, nas questões relativas à água, por dois vetores: a Eficácia e Eficiência, ou seja, tudo o que diz respeito à gestão e controle da água; e a fé de que choverá e que, chovendo, se resolvam todos os nossos problemas”, mas, concluiu o Presidente da CMF, “as alterações climáticas existem e não vão terminar; pelo contrário: acentuar-se-ão, pelo que se torna obrigatório encontrar as soluções que melhor poderão colmatar as dificuldades que vamos atravessar”.
Recordamos que este evento, que se foca na inovação nas áreas da Água, Sustentabilidade e Economia Circular, sendo uma iniciativa de grande importância para a região e para o desenvolvimento de soluções de trabalho em rede. Por essa razão, O Município de Faro formalizou um Acordo de Parceria Técnico-Científico, como parceiro de referência do ecossistema de inovação H2O & Sustainability Innovation HUB HUB e Grupo de Trabalho, desejando que estas conexões se estendam a toda a região.
Câmara Municipal de Faro
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